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Tutor de cachorra desaparecida no aeroporto por 45 dias espera há mais de dois anos por indenização de empresa aérea

Pandora desapareceu em dezembro de 2021, durante uma conexão no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Por conta das buscas e do processo indenizatório, o tutor Reinaldo Júnior mudou para a cidade e aguarda desfecho do litígio que se arrasta: “São humilhações que a gente não esquece", contou. O garçom Reinaldo Bezerra Júnior e a cachorrinha Pandora, dois anos depois do sumiço no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP).

Johnny Duarte/Divulgação

Vítima de negligência no transporte de animais no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo no final de 2021, o garçom Reinaldo Bezerra Junior luta há mais de dois anos na Justiça para conseguir uma indenização da empresa aérea por causa do sumiço da cachorrinha Pandora.

A cadela ficou 45 dias desaparecida nas imediações do aeroporto, após o tutor fazer uma escala no maior terminal de passageiros do Brasil.

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Reinaldo e Pandora saíram de Recife (PE), em 15 de dezembro de 2021, com destino a Florianópolis, em Santa Catarina. Eles passariam o fim de ano com a família em Joinville e, após as festas, seguiriam direto para a Suíça, onde Reinaldo tinha uma proposta de emprego de chapeiro.

Mas a escala em Guarulhos mudou a vida do garçom de cabeça para baixo. Na troca de aeronave, Pandora escapou da gaiola fornecida pela Gol e sumiu nas dependências do aeroporto.

Homem procura cachorra desaparecida no aeroporto de Guarulhos há quase um mês

A cachorra foi encontrada só no dia 30 de janeiro do ano seguinte e, durante o período de procura pelo animal de estimação, Reinaldo viveu um calvário que quase custou sua vida.

“Depois dos primeiros dias de procura, coloquei uma recompensa de R$ 7 mil pra quem achasse ela. Recebi uma ligação de um rapaz dizendo que tinha encontrado a Pandora numa comunidade de Guarulhos. Ele tinha um vídeo que realmente parecia muito a cachorra. Resolvi ir até lá para conferir, mas chegando, fui rendido por um grupo armado. Eles me amarraram e exigiram que eu fizesse um pix pra eles, com o dinheiro da recompensa”, contou.

Exclusivo: Veja o momento em que a cachorra Pandora é encontrada

“Só fui solto porque agi com muita calma e disse que a Polícia estava me ajudando na procura do bicho e sabia onde eu estava. Um dos criminosos me reconheceu e disse: ‘ih, é o rapaz da cachorra que apareceu no Fantástico’. Depois disso, resolveram me soltar, com o compromisso que eu não denunciasse o local onde fui amarrado”, relembra Reinaldo.

Indenização de R$ 320 mil

Reinaldo Júnior reencontra a cachorra Pandora depois de 45 dias de procura em Guarulhos, na Grande São Paulo.

Reprodução/Redes Sociais

Por esses e outros entraves, Reinaldo tenta na Justiça uma indenização de R$ 320 mil por causa dos danos pessoais e psicológicos que viveu no período de buscas pela cachorra.

O processo corre na Justiça paulista ainda na 1ª instância. O garçom processou a empresa aérea Gol e a concessionária GRU Airport, que cuida do terminal de Guarulhos. Segundo ele, durante todo o tempo de buscas, a GRU Airport dizia que não tinha imagens do desaparecimento de Pandora.

Mas no decorrer das investigações pela Polícia Civil, foi descobriu várias imagens que mostravam a circulação da cachorrinha pelo terminal, até que ela fugiu por um buraco nas grades do aeroporto.

Câmera de segurança mostra cachorra Pandora correndo na pista do Aeroporto de Guarulhos antes de desaparecer

Reprodução TV Globo

Por causa do processo, Reinaldo e a mãe se mudaram para Guarulhos, porque o garçom não tem dinheiro para ir e voltar para SP, em virtude das audiências do processo.

A casa onde eles vivem é alugada por R$ 1.800. O valor é pago por bicos que o garçom faz eventualmente, trabalhando como garçom à noite ou cuidador de cães durante o dia.

“Minha vida mudou completamente. Só tenho a minha mãe aqui. Deixamos a vida no Recife, nossa família, para buscar reparação. Depois de tudo, não estamos dispostos a deixar pra lá essa dor que até hoje me faz acordar durante a noite, com medo de um novo sumiço da cachorrinha”, disse Reinaldo ao g1.

Segundo o advogado Leandro Petraglia, que cuida da defesa do garçom na Justiça, o processo ainda não foi concluído na 1ª instância porque as empresas processadas pediram uma perícia nas despesas clínicas da cachorra Pandora.

Após o desaparecimento, segundo o tutor, a cachorrinha foi encontrada com oito quilos a menos e alguns problemas de saúde que até hoje demandam cuidados veterinários.

“É importante buscar a Justiça para as reparações de danos, mas, infelizmente, as soluções judiciais demandam tempo, pois, para o convencimento e por regras processuais, todas as provas devem ser produzidas, o que acaba ampliando o tempo da instrução. De certa forma, acaba gerando uma demora que frustra a vítima, mas um processo com todas as provas é essencial para garantir uma decisão justa e equilibrada”, disse Leandro Petraglia.

“No caso da Pandora, estamos pendentes de uma última perícia pretendida pela administração do aeroporto (GRU) para confirmar os procedimentos veterinários e custos da Pandora após seu resgate, sendo que, após esta perícia, o processo estará pronto para ser sentenciado, onde há uma expectativa de condenação dos envolvidos, cuja indenização espera-se ressarcir a família e, também, agir pedagogicamente para que casos como esse não se repitam”, declarou.

O g1 procurou a Gol, que disse que não vai comentar processos judiciais em andamento. A GRU Airport também foi procurada, mas não se posicionou até a última atualização desta reportagem.

Caso do coelho Alfredo

Passageiro embarca em voo internacional com coelho após confusão em aeroporto de SP

Arquivo pessoal

Petraglia é advogado de outro caso famoso envolvendo o animal e empresas aéreas. Em novembro de 2021, um casal de brasileiros que iria morar em Dublin, na Irlanda, foi impedido de embarcar com o coelho de estimação chamado Alfredo, mesmo estando em posse de uma liminar judicial que garantia o embarque do animal.

Com a negativa, houve confusão e agressão por parte do tutor do coelho com funcionários da KLM (veja vídeo abaixo).

Coelho é impedido de embarcar em voo e gera briga no Aeroporto de Cumbica

A história também ganhou repercussão nacional mas, ao contrário das empresas brasileiras, a KLM propôs um acordo judicial de indenização ao casal e encerrou o processo logo no início.

Os valores da indenização, segundo Petraglia, são sigilosos e resguardados pelo contrato assinado entre as duas partes.

Coelho Alfredo: veja vídeo da confusão que mudou regra sobre transporte aéreo dos pets

“No início, eu queria resolver as coisas amigavelmente. Pedi para que a Gol pagasse as minhas despesas em SP até que eu encontrasse a Pandora. Mas ele não aceitaram. Com dez dias de procura, eles pararam de pagar o hotel onde eu estava hospedado e tive que ir na Justiça para não ficar na rua, até que eu encontrasse e minha ‘filha’”, afirmou.

“São humilhações que a gente não esquece. E que não dá pra aceitar e esquecer”, declarou Reinaldo.

Cachorro Joca

Cachorro morre depois de viajar de avião, por engano, entre São Paulo e Fortaleza, duas vezes seguidas no mesmo dia

Em entrevista ao g1, o garçom pernambucano disse que reviu todo o drama de dois anos atrás ao ver nos telejornais a notícia da morte do cachorro Joca, vítima de um engano da mesma companhia aérea nesta semana.

Segundo ele, a dor vivida pelo engenheiro João Fantazzini Júnior, tutor do cão Joca, é "indescritível e vai demorar a ser esquecida".

“Só quem viveu o que ele está vivendo consegue entender a dimensão da perda de um ente tão querido dessa forma. A gente confia na empresa, paga por um serviço, entrega o nosso bem maior aos cuidados deles, e recebe de volta aquilo que a gente mais temia na vida. Mando meu abraço de solidariedade e mando forças pro João ir em frente, sem esquecer e buscando a reparação que ele acha que deve ter diante de tamanha dor”, comentou.

Família da cachorrinha Pandora já tem outros dois cães.

Acervo pessoal

Apesar do episódio traumático, durante as buscas por Pandora, Reinaldo adotou um segundo cachorro encontrado na rua.

Atualmente, a família da Pandora é composta pelo garçom, a mãe dele e mais três cachorros adotados.

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